Ordo Fratrum Minorum Capuccinorum PT

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Encarnar e reforçar os valores da nossa identidade carismática

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Fr. Roberto Genuin

Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos

(Prot. N. 01066/19)

 

Encarnar e reforçar os valores da nossa identidade carismática

A Ratio Formationis Ordinis

A todos os irmãos da Ordem
Em suas sedes

Caros irmãos, o Senhor lhes dê a paz!

Estou feliz em poder acompanhar, com algumas palavras, a publicação da Ratio Formationis.

1. Há duas passagens no Evangelho que, postas uma ao lado da outra, explicam-nos perfeitamente em que consiste a encarnação: Jo 1,14 e Mt 25,31-36. Trata-se de uma espécie de díptico, cujas duas tábuas se iluminam reciprocamente. No Prólogo do quarto evangelho, diz-se que o Logos se fez carne e pôs a sua tenda entre nós[1]. E Mateus, em uma cena diante da qual é impossível não nos sentirmos interpelados, esclarece qual tipo de carne o Logos escolheu: é a do faminto, do sedento, do migrante, daquele que está nu, do doente, do prisioneiro[2]. Nisto consiste, segundo o que nos revela o Espírito por meio dos dois textos, a resposta humana à encarnação: no cuidado com a parte mais frágil da humanidade.

2. Como Cristo, Palavra encarnada do Pai, faz-se presente nos seres humanos concretos que encontramos em nossa vida, assim também a nós cabe encarnar na vida de todos os dias os valores que compartilhamos e que caracterizam a nossa identidade carismática de frades menores. O que é compartilhado e aceito por todos, deve encontrar diversas expressões concretas, devido às diversas situações e culturas em que estamos inseridos. O nosso desafio é o de sermos testemunhas do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo em diversos contextos culturais.

3. Demos graças a Deus, pois, como anunciei na carta de início do sexênio, o texto oficial da Ratio está pronto, e pode ser publicado. Devemos considerar tudo isso como uma graça. Por isso, por nossa vez, segundo os princípios da espiritualidade franciscana, devemos restituí-la, isto é, devolvê-la aos outros sem reservar nada para nós mesmos; a nossa disponibilidade pessoal é interpelada para continuar a construir a nossa identidade fraterna onde quer que estejamos. Pensando em como São Francisco descreve o verdadeiro frade menor (EP 85), vem-me à mente o rosto de tantos irmãos que, também hoje, vivem a nossa única identidade nos lugares mais diversos do mundo: a alegria e a acolhida dos irmãos africanos; a sensibilidade para a meditação e a delicadeza dos irmãos da Ásia; a atenção pela justiça e pela defesa da dignidade dos mais pobres, dos irmãos na América; a solidariedade, o amor pela liberdade e o respeito por cada indivíduo, dos irmãos da Europa. Somos todos responsáveis, com o auxílio do Espírito Santo, para continuar a modelar o mais belo rosto da nossa Ordem.

4. A Ratio Formationis percorreu muitos caminhos na escuta, na reflexão e no discernimento. O Instrumentum laboris foi apresentado, discutido e votado pelo Capítulo Geral, que propôs algumas modificações e melhoramentos, que foram estudados e integrados por uma Comissão criada ad hoc. Na sessão ordinária do Conselho Geral de setembro passado, após uma atenta leitura do texto final, com o consentimento de todo o Conselho Geral, o texto foi oficialmente aprovado, com decreto de promulgação de 8 de dezembro de 2019, Solenidade da Imaculada Conceição.

5. Com a promulgação, concluiu-se a fase de elaboração e a intensa e frutuosa obra de reflexão, que exigiu a atenção da Ordem nos últimos seis anos, e se inicia a nova fase de aplicação e de atuação. Para esta fase, é necessário conhecer bem o texto, de claro caráter carismático, e aprender a colher e apreciar os seus conteúdos; o nosso Proprium é apresentado com criatividade, e deve servir a toda a Ordem como um instrumento válido para continuar a refletir e tomar consciência da nossa identidade. Deste modo, a Ratio vem para constituir um quadro de referência comum, que garante a transmissão dos valores que nos caracterizam como frades capuchinhos, e, ao mesmo tempo, favorece a criatividade e a flexibilidade quando se trata de encarná-los em diversos contextos culturais, valorizando tudo o que é bom e evidenciando aqueles aspectos que necessitam de um ulterior fortalecimento ou mesmo de uma correção. Estou convicto de que conhecer e viver os valores carismáticos da nossa Ordem de modo mais coerente nos ajudará a superar muitas das coisas que agora nos preocupam.

6. O atual Conselho Geral comunga e está em profunda harmonia com todos os assuntos apresentados na RF; são justamente os Conselheiros Gerais os primeiros responsáveis pela tarefa de encorajar e acompanhar a encarnação do conteúdo da RF nas respectivas áreas geográficas. Agora, em conformidade a quanto se afirma no Anexo I, n. 33, deve-se prever o desenvolvimento de um protocolo que guie eficazmente a atuação/aplicação da Ratio. Primeiramente, deverão se formar os frades responsáveis por acompanhar a atuação em nível de Conferência e de Circunscrição, e depois avaliar o impacto do documento a médio e longo prazos. É responsabilidade do Secretariado Geral da Formação encorajar e coordenar este processo.

7. O Secretariado Geral da Formação é coadjuvado pelo respectivo Conselho Internacional para a Formação (CIF), que já se reuniu, na semana de 18 a 24 de novembro, com o objetivo de conhecer melhor o texto e identificar estratégias e metodologias ativas, que ponham todos os frades da Ordem em contato com o texto oficial. Pode-se bem entender como, neste processo, o Conselho Internacional para a Formação (CIF) tenha realmente um papel central. Em comunhão com o Conselheiro Geral, dentro da própria Conferência, cada membro do CIF deverá ser uma referência em matéria de formação para os superiores maiores e os formadores. Assim, a fim de que os conselheiros da formação possam desempenhar eficazmente a sua tarefa, será necessário que os ministros e custódios conheçam e apoiem seu trabalho, voltado a encorajar, acompanhar e avaliar os programas de formação à luz da nova RF. Os membros do CIF são também responsáveis para estabelecer e manter contatos constantes de comunicação entre a Conferência e o Secretariado Geral.

8. As nossas Constituições, no n. 25,8, sublinham a importância e a necessidade para cada Circunscrição ou grupo de Circunscrições de ter um Secretariado para a formação. Peço aos Superiores Maiores que verifiquem a existência deste organismo nas próprias Circunscrições e o apoiem, pelo bem da formação. Os secretários provinciais ou custodiais da formação têm a tarefa de encorajar os guardiães das fraternidades locais e, de modo especial, os responsáveis pelas casas de formação.

9. Abre-se agora um tempo de oportunidade para reler todos os projetos de formação e adaptá-los às novas exigências do mundo de hoje, segundo os princípios da RF. Tudo isso pressupõe uma obra de sensibilização e, juntamente, será necessário identificar as urgências e prioridades da formação de cada uma das áreas geográficas da Ordem. Podemos assim colher a ocasião para verificar os valores que professamos e o modo com que os transmitimos: como funciona a formação em nossas Circunscrições, como procede o nosso processo de crescimento humano e espiritual, o que devemos manter e o que devemos mudar em nossas estruturas e em nossos modelos formativos.

10. Entre todas as questões atuais, há uma particularmente importante: a configuração das fraternidades formativas, que devem ter um número suficiente de frades e de formadores, e com uma formação adequada. Embora haja algumas dificuldades nas relações, a experiência das fraternidades formativas interprovinciais está dando bons resultados, e os formadores e formandos as avaliam positivamente. Sem estas estruturas formativas, o acompanhamento personalizado e o discernimento fraterno não são possíveis.

11. Os tempos de adaptação das estruturas formativas e dos projetos de formação aos princípios e ao espírito da Ratio são necessariamente flexíveis, pois os ritmos não são os mesmos em toda a Ordem, nem todos os requisitos podem ser postos em ato com a mesma intensidade. Em todo caso, é conveniente preparar um calendário que seja revisto periodicamente, e no qual sejam indicados os objetivos, as prioridades e o planejamento das ações a serem desenvolvidas.

12. Quero insistir, ainda uma vez, sobre a importância da Missão. Gostaria que os nossos projetos formativos tivessem uma marca missionária mais clara, ajudando os nossos jovens a manter vivo o desejo de ir, de sair rumo às periferias, de serem sempre abertos e disponíveis à missão, de trabalhar generosamente para construir a paz, a justiça, a solidariedade e o cuidado da nossa casa comum. Tudo isso me parece um modo ideal para manter viva a nossa identidade carismática hoje.

13. Ponho sob a proteção de Maria Imaculada, Padroeira da Ordem, todas as iniciativas e obras que serão realizadas para encarnar a nossa Ratio Formationis; que a Mãe do Verbo encarnado, neste tempo de Advento, preencha as nossas vidas de esperança e autenticidade.

Fraternalmente,

Fr. Roberto Genuin    
Ministro Geral OFMCap.

Roma, 8 de dezembro de 2019.
Solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora,
Padroeira da Ordem.



[1] “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que recebe do Pai como filho unigênito, cheio de graça e de verdade”.

[2]31Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. 32Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. 33E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. 34Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! 35 Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; 36eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’”.

 

 

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